Copa do Mundo Masculina: Melhor líbero do mundo, Escadinha abraça o MVP Giba






Em cima do pódio, o brasileiro Giba, o búlgaro Kaziyski e... Escadinha, o líbero do Brasil, já com o prêmio de melhor em sua posição na Copa do Mundo de Vôlei 2007. Lá no alto, os três concorriam ao título de melhor jogador da competição. Foi fácil ler nos lábios de Escadinha: "não, ou é teu ou é dele", falando para o outro brasileiro e apontando para o atleta da Bulgária. No final, deu Giba. No abraço que se seguiu, mais claro impossível o respeito e o carinho entre ambos.

"O Escada é uma pessoa fantástica, um lutador. Ele é merecedor de tudo o que conquistou e continua conquistando na vida. Merece demais, por todas as dificuldades que passou e conseguiu superar. Tive que dar esse abraço nele no pódio", comenta Giba.

E Escadinha devolve.

"Não encontro palavras para falar o que o Giba significa e representa, tanto como pessoa quanto como jogador. Quem o conhece, sabe que ele tem um grande coração. É um belo pai de família".

Brincalhão como sempre, Escadinha deixa escapar. "Fiquei surpreso com o fato de ter sido indicado para MVP. Me senti até mal ao lado de monstros do voleibol, como Giba e o búlgaro Kaziyski. Eu acho que estava no lugar errado... (risos)".

Mas o líbero sabe e costuma falar muito sério. Quem o conhece, sabe que prêmio individuais são encarados apenas por conseqüência de um objetivo bem maior. "Me deram o prêmio de melhor líbero, mas o meu objetivo era outro. Em 2003, também fui eleito o melhor da posição e as metas da equipe eram as mesmas deste ano. Ou seja, conquistar a vaga olímpica e ganhar o ouro", explica.

Sérgio Dutra dos Santos é filho de um humilde casal trabalhador de uma lavoura de café, em Diamante do Norte (PR). Quando tinha nove meses, os pais decidiram deixar a cidade paranaense e tentar a sorte em São Paulo. Na infância em Pirituba (SP), viveu dificuldades ao lado da irmã Suezi (um ano mais velha) e do irmão Nei (dois anos mais novo).

Para ajudar a pagar as despesas da família, Serginho teve o seu primeiro emprego logo aos 12 anos, como empacotador de supermercado. Em seguida, foi office-boy e colocador de papel de parede. Quando conheceu a sua atual esposa, Renata, passaram a vender produtos de limpeza numa Kombi antiga, pelas ruas de São Paulo. Hoje, o consagrado líbero comemora o bicampeonato da Copa do Mundo e está ansioso pelo nascimento do terceiro filho.

"Ela ficou grávida e o nosso primeiro filho, Marlon Otavio, nasceu em 1997. Foram momentos difíceis, já que eu conciliava o voleibol com outro emprego. Nasci numa família humilde, mas não troco os ensinamentos dos meus pais por nada do mundo. Presenciei muita coisa ruim, porém não me envolvi. Nunca desisti do vôlei. Nunca fraquejei", diz, acrescentando:

"Na minha vida, a Seleção Brasileira significa prazer e questão de sobrevivência, já que muita gente depende de mim. E eu do vôlei. Tudo o que consegui devo ao voleibol. Quando entro na quadra, relembro tudo o que passei na vida. Em 2000, o meu segundo filho (Matheus Henrique) nasceu e passou os primeiros 10 dias na UTI, com problemas no pulmão. Graças a Deus se recuperou e agora a minha esposa está grávida de dois meses. Sabemos que é um menino, mas não escolhemos ainda o nome. Estou muito feliz", revela o jogador, que foi convocado pela primeira vez para a Seleção Brasileira em 2001 e hoje no pódio colocou uma bola de vôlei embaixo da camisa.

Serginho jogava voleibol nas ruas de terra de Pirituba até os 12 anos, quando aprendeu noções básicas da modalidade durante as aulas de Educação Física na Escola Otto de Barros Vidal. A partir daí, sempre conciliando esporte e trabalho, o seu destino começou a mudar.

"Fui jogar no Centro Esportivo de Pirituba, onde desenvolvi os fundamentos do vôlei com o técnico Arnaldo Assunção, ex-árbitro da Federação Paulista. Eu era atacante e, com 14 anos, já media 1,82m. De lá para cá, cresci apenas dois centímetros".

Aos 17 anos, foi chamado para fazer um teste na categoria infanto-juvenil do Palmeiras.

"Fui aprovado, mas, quando passei para o juvenil, fui atuar em Guarulhos. Sempre como atacante. Lá, joguei ao lado do Luizomar de Moura (atual técnico do Finasa/Osasco), que me dava carona, tênis, camisa de treino...".

Quando surgiu a posição de líbero, Serginho realizou durante 10 dias um período de experiência no time do São Caetano. "O Chicão (atual técnico do time feminino do São Caetano) havia jogado comigo em Guarulhos e me indicou ao treinador Tonico, que me aprovou. A partir daí, passei a me dedicar exclusivamente ao vôlei. E acabei me destacando como líbero logo na minha primeira Superliga, em 97/98".

Como líbero da equipe verde-amarela, esteve presente em seis títulos da Liga Mundial (2001, 03, 04, 05, 06 e 07), em quatro sul-americanos (2001, 03, 05 e 07), em duas Copas do Mundo (2003 e 07), em dois Campeonatos Mundiais (2002 e 06), além de ter conquistado as medalhas de ouro nos Jogos Olímpicos de Atenas (2004) e no Pan do Rio de Janeiro (07). Agora, está há quatro anos no exterior.

"A primeira temporada foi bastante complicada. Ficar longe família é bem difícil. Sinto saudade dela e dos amigos. Hoje, estou mais habituado e adaptado, até porque tenho de colocar pão e leite na mesa de casa. A minha família entende. Os meus dois filhos gostam muito de vôlei, porém jogam futebol na escolinha do São Caetano. Durante as férias escolares, eles ficarão comigo em Piacenza, na Itália, e terão a chance de participar, durante três meses, da escolinha de vôlei do clube".

Os ensinamentos que recebeu de Rogério (seu ex-procurador), Montanaro (época do Banespa), Bernardinho e Ricardo Tabach (ambos na Seleção Brasileira), o líbero Sérgio Escadinha pretende retransmitir aos jovens.

"O voleibol faz parte da minha vida. Quando eu parar de jogar, quero estar no meio do vôlei e passar um pouco da minha experiência. Quem sabe, ajudar na formação de novos líberos".

Enquanto isso, pôs em prática, em Pirituba, um projeto social de sucesso.

"É o VivaVôlei de Pirituba, chamado de 'Serginho 10'. Há cerca de três anos, consultei o presidente Ary Graça (da Confederação Brasileira de Voleibol) sobre a possibilidade de inaugurar um núcleo no Centro Esportivo de Pirituba. E ele aceitou na hora. Perguntei também se haveria a possibilidade de um amigo de infância (Luizinho) tocar o projeto. O presidente também aceitou e ainda o capacitou. O Luizinho tem uma trajetória parecida com a minha, é apaixonado por voleibol e ainda conseguiu fazer faculdade de Educação Física. Hoje, feliz da vida, ele dá aula no núcleo para aproximadamente 140 crianças, que são obrigadas a estudar. Esse é um dos objetivos do VivaVôlei. Quando visito o núcleo, olho para a garotada e me vejo ali. Elas usam as mesmas roupa e vocabulário que eu usava", encerra Serginho.
 

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1 comentários:

O Sérginho merece muito mais sucesso sempre. Acompanhei alguns jogos da seleçao aqui no Japao e ele muito atencioso com a torcida. Na derrota contra o EUA foi um dos poucos que derao atençao aos poucos torcedores que estavam na saida do ginasio (assim como Andre Nascimento e Bruno) o resto passou batido. A simplicidade que ele atendeu aos fas fez com que a minha admiraçao por ele aumentasse ainda mais! Pode ter certeza Serginho que vc conquistou a torcida brasileira aqui no Japao e no Mundo! PARABÉNS!!!!!